Quando o corpo acorda primeiro,
corro pra fazer ginástica, me arrumar, pegar o carro,
chegar ao trabalho, dar um show na apresentação,
impressionar o novo diretor,
voltar pra casa, comer alguma coisa,
sair para papear com aquele vestido novo,
comprado na última vez
que o corpo acordou primeiro.
Quando a alma acorda primeiro,
faço minhas orações, presto atenção no olhar
daquela menininha que vende bananada,
na idade da sandália sa feirante,
nas olheiras da secretária, no dilema do
meu chefe em mandar o João embora,
na aflição da faixineira para que eu chegue
e ela vá embora, chegando em casa depois de
dois ônibus, um trem e ainda outro ônibus.
Acho que é este o descompasso que me faz ir.
É querer o dia seguinte, para apagar o ontem.
Acho que é o desencontro que contrabalança
culpa e poder, saber e ignorar.
Mas hoje, por piedade de mim, vou parar,
sentar e esperar minha alma.
E aí, seguiremos juntas.
Como será o momento em que corpo e
alma forem um, dentro de mim?
(Petippa Mojarta)
